Ufal: 5 lições que os candidatos a reitor precisam aprender com a Paraíba sobre ensino superior

Agendaa 16 de julho de 2019

Por Rodrigo Cavalcante

Valéria Correia (disputando a reeleição), Josealdo Tonholo, José Vieira da Cruz e Alexandre Toledo.

Talvez nem todos os já anunciados quatro candidatos a reitor da Ufal saibam, mas, quando o assunto é ensino superior, Alagoas perde para a Paraíba de 7 x 1.

Ao menos esse foi o placar divulgado pelo MEC em dezembro passado quando apontou a Paraíba com sete instituições de ensino superior com conceito 4 (incluindo as duas federais de João Pessoa e Campina Grande) – enquanto Alagoas teve apenas uma, a Universidade Tiradentes, com a Ufal mantendo a média de conceito 3.    

Apesar da dificuldade em se comparar Estados e instituições com trajetórias diversas (desde o final dos anos 1960, por exemplo, o campus de Campina Grande se tornou um centro de pesquisa e tecnologia apoiado pelo Governo Federal), AGENDA A ouviu pesquisadores e consultores (da Paraíba e de Alagoas) para captar lições que os quatro candidatos a reitor da Ufal poderiam se inspirar para melhorar o desempenho da mais importante universidade do Estado.

Entre os entrevistados, estão nomes como os paraibanos Claudio Marinho (radicado em Recife que, além de ser um dos fundadores do Porto Digital, ocupou as secretarias de Planejamento e de Ciência e Tecnologia em Pernambuco); Silvio Meira, também radicado em Recife, fundador do Porto Digital e do C.E.S.A.R; Fábio Guedes, radicado em Maceió, professor da Ufal e diretor da Fundação de Amparo da Pesquisa de Alagoas (Fapeal), além do alagoano Hyggo Oliveira de Almeida, professor do departamento de Sistemas de Computação da Universidade Federal de Campina Grande e diretor da Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Indiustrial da UFCG. 

Confira abaixo um resumo do que eles disseram em 5 lições:

1 – Defina um foco de excelência regional  

Assim como ninguém pode ser excelente em tudo, toda universidade tem, sim, áreas de formação e pesquisa acima da média que devem ser impulsionadas para que a instituição seja reconhecida até nacionalmente pela reputação desses centros. Essas áreas e cursos de ponta servem como um cartão de visita capaz de atrair os melhores estudantes e professores para a universidade. Isso não significa, necessariamente, relegar ao ostracismo departamentos e cursos de desempenho médio. Mas significa, na prática, que pouco adianta oferecer mais de 100 cursos no Estado se nenhum deles for reconhecido, ao menos no Nordeste, como o melhor e mais disputado em sua área. Apesar de a Ufal contar com alguns bons laboratórios e centros de pesquisas avançados, a instituição parece não ter clareza, ainda, quais são seus cursos com condições de se tornarem os melhores no Nordeste – a exemplo do que ocorreu com os cursos de Engenharia em Campina Grande.

2 – Dê poder às lideranças acadêmicas empreendedoras 

Sim, as universidades também têm personalidades que aliam reputação acadêmica, ousadia e vontade de fazer. Caso elas tenham poder para executar seus planos, melhor. Esse foi o caso, por exemplo, do paraibano Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque (1932-2011), considerado o maior responsável por transformar Campina Grande em um centro de tecnologia na área de Engenharias e Computação desde os anos 1960. A influência do engenheiro foi tão decisiva na trajetória da pesquisa na Paraíba que o consultor Cláudio Marinho até hoje usa a expressão “Efeito Lynaldo” para explicar a fatia desproporcional daquele Estado em pesquisas financiadas pelo CNPQ. “Mais do que visão e ousadia, Lynaldo soube ter acesso ao poder, ainda em um regime autoritário, para defender seu projeto de interiorização da ciência e tecnologia”, diz Cláudio Marinho. “E essa conjunção teve impacto não apenas na pesquisa em Campina Grande e na Paraíba, como em todo o Nordeste”.

3 – Crie um ambiente atraente para talentos de fora 

“Temos talentos locais de sobra para ocupar as nossas vagas”. Se você já ouviu essa frase numa universidade ou qualquer outra organização, desconfie. Afinal, todas as grandes instituições de ensino de excelência adotam estratégias para atrair os melhores nomes para o seu corpo docente. Quando possível, não apenas nomes de outros Estados, como também de outros países. Foi isso que se deu, por exemplo, no campus de Campina Grande na década de 1970, quando dezenas de pesquisadores da Índia e até do Leste Europeu foram convidados a ensinar na UFPB. “Note que a presença desses pesquisadores na universidade transformou Campina Grande, segunda cidade da Paraíba, em um polo mais importante na época do que a segunda cidade de Pernambuco, Caruaru”, diz Silvio Meira. “E não apenas economicamente, como também culturalmente e na prestação de serviços, já que a presença desses pesquisadores elevou a demanda cultural e do padrão de atendimento em toda região”. Ainda que as universidades federais vivam tempos difíceis e de ameaça constante por mais escassez de verbas(à época, a UFPB podia oferecer até moradia para professores estrangeiros), toda estratégia para atrair bons nomes deve ser aproveitada. A própria Ufal tem um exemplo recente da importância dessa política que se deu com a contratação do argentino Alejandro César Frery Orgambide, atual pró-reitor de extensão e pesquisa da Ufal, que saiu da UFPE para Alagoas por meio da abertura de uma vaga na Ufal de Professor Titular, topo da carreira universitária. Premiado ano passado pela maior organização profissional e científica do mundo na área de Engenharia e da Computação, o IEEE, Alejandro tem tido papel de destaque no fomento da produção científica em centros como o Laboratório de Computação Científica e Análise Numérica (Laccan) do Instituto de Computação.

4 – Multiplique projetos para captar recursos privados e públicos

Sim, a burocracia e a legislação nem sempre facilitam o desenvolvimento de projetos em comum da universidade com empresas públicas e privadas. Mas, graças a leis como a de Informática, do Petróleo e, mais recentemente, do Marco Legal de Ciência e de Inovação, o esforço de alguns pesquisadores começam a mostrar resultados. Prova disso é o aumento de recursos captados em Alagoas via instituições como a Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa, a Fundepes, que faz a gestão desses projetos. Somente um laboratório da Ufal, o Laboratório de Computação Científica e Visualização (LCCV), captou nos últimos 10 anos dezenas de projetos com aporte de mais de R$ 50 milhões em projetos até 2022, tendo como principal parceiro a Petrobras. Ainda assim, a maior parte desses investimentos decorre do esforço de um número pontual de professores (no caso do LCCV, foi liderado pelo engenheiro e ex-secretário de CIência e Tecnologia Eduardo Setton) – e não de um esforço coordenado de uma política clara com envolvimento direto dos reitores. “Aqui no campus da UFPB, sinto que há uma cultura de integração bem maior entre dezenas de professores de diversos departamentos trabalhando em parceria para conseguirmos mais recursos e projetos”, diz o alagoano Hyggo Oliveira de Almeida, professor do departamento de sistemas de computação da Universidade de Campina Grande e diretor da unidade no campus da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação (Embrapii), empresa do governo federal que facilita a ponte da pesquisa universitária com a indústria e já responde por mais de 700 projetos em todo o país que movimentam R$ 1,2 bilhão de investimentos. “Como a universidade não prepara os pesquisadores para fazer essa ponte com a indústria, é preciso não apenas facilitar essa aproximação, como criar uma cultura que elimine barreiras e integre representantes de diversos departamentos”. Ou seja: mais do que facilitar ou agilizar o trâmite desses projetos, cabe à reitoria uma postura mais ativa na busca desses recursos – ainda mais em tempos de ameaça de contingenciamento de verbas.

5 – Faça a interiorização com qualidade e foco 

É claro que uma Universidade Federal pode e deve ter uma política de interiorização para fortalecer outras regiões do Estado. Mas, quando essa expansão não tem foco claro,os resultados podem ser medíocres. Afinal, em vez de apenas “duplicar” cursos de graduação nos demais campi do interior, o principal foco dessa expansão deveria ser também o de fazer de alguns desses cursos os mais importantes em suas áreas para o Estado. Quem mora em João Pessoa e quer fazer o melhor curso de Engenharia Elétrica, por exemplo, sabe que precisa se mudar para Campina Grande – o que, além de valorizar o curso, muda o perfil da região. “Como algumas cidades no interior da Paraíba já tinham centros de ensino tradicionais, acredito que isso pesou num processo de interiorização mais gradual e de qualidade”, diz o economista Fábio Guedes, atual diretor-presidente da Fapeal. “Além disso, mesmo em Campina Grande, buscou-se desde cedo uma maior interação do campus para resolver problemas do entorno em parceria com empresas da região”. Ou seja: para fortalecer seus campi no agreste e no sertão, a Ufal deve traçar um foco claro da vocação de cada um deles para que tenham cursos específicos de alto padrão com poder de atrair alunos de Maceió e de outras capitais para estudarem nessas regiões.

2jNbw6hw=XxEy}%&