Nem Rei Pelé, nem Rainha Marta: conheça os nomes esquecidos que ergueram o Trapichão há 50 anos

Agendaa 26 de outubro de 2020

Da esquerda para direita: Governador Lamenha Filho, Pelé e industrial Napoleão Barbosa na inauguração do Estádio 

 

Naquele domingo, 25 de outubro de 1970, estima-se que mais de 53 mil pessoas (o equivalente a um quinto da população de Maceió à época) foram assistir à partida entre Santos e Seleção Alagoana na inauguração oficial do Estádio “Rei Pelé”, considerado então um dos mais modernos do país.

O homenageado Pelé, que veio a Maceió para inauguração logo após seu aniversário de 30 anos, celebrou 80 sexta passada (23) recebendo (merecidamente) homenagens de todos os brasileiros.

Já os nomes responsáveis pela construção do nosso maior estádio, que completou 50 anos neste domingo, permanecem, infelizmente, pouco lembrados.

Um desses nomes, por exemplo, é o do engenheiro civil Vinícius Maia Nobre (na foto à esquerda) que, no livro “Paixão Incalculável – Memórias de um Engenheiro”, registrou, felizmente, a trajetória daqueles que se empenharam para que o Estádio saísse da prancheta.

No capítulo “Trapichão: Trinta Anos”, Maia Nobre narra como o estádio foi idealizado ainda na década de 1960, durante o governo Luiz Cavalcante (1961-1966, na foto abaixo), que escolheu o local para a construção do estádio no terreno do Trapiche conhecido como a vacaria do Seu Fontes e mobilizou as equipes para a construção da obra. 

“Foi um dia de maior inspiração em minha vida aquele em que, governando o nosso Estado, pensei em construir um Estádio de Futebol digno das tradições dos dois grandes titãs do futebol alagoano: CSA e CRB”, escrevera o próprio governador no diário da construção do Estádio (segundo Vinícius Maia Nobre, o livro de ocorrência mais tarde desapareceu). 

Para que o projeto saísse do papel, Luiz Cavalcante indicou uma das lideranças empresariais mais capazes e respeitadas na história do Estado: Napoleão Barbosa, que presidiu por anos a Federação das Indústrias do Estado de Alagoas — e, entre inúmeras obras, ergueu o prédio da FIEA, na Av. Fernandes Lima, que hoje leva seu nome. 

Barbosa logo arregimentou outros nomes como Segismundo Cerqueira, Carlos Breda e Murilo Mendes — este último (foto abaixo), como ex-secretário de Muniz Falcão, coordenou a criação da FAPE (Fundação Alagoana de Promoção Esportiva), entidade que teria maior flexibilidade para arrecadar fundos (por meio de grandes bingos) e para contratar arquitetos e consultores para tocar o projeto.

Por meio da realização de grandes bingos, a Fundação começou a arrecadar recursos para o início das obras e a contratação de consultores e arquitetos como João Khair, autor do projeto original (que receberia acréscimos anos depois) e já era conhecido por assinar no Rio de Janeiro obras como o Parque Esportivo do Flamengo, na Gávea, e o Clube Monte Líbano.

Após Vinícius ter sido contratado juntamente com Humberto Lobo para o início das obras ainda durante o governo Luiz Cavalcante, o projeto sofreu um impasse após os  bingos para arrecadação de recursos terem sido suspensos pelo sucessor de Cavalcante, o interventor militar João Batista Tubino (por considerar o jogo uma contravenção). Após a posse do governador Lamenha  Filho, em 1968, os bingos foram retomados e as obras começaram a se acelerar sob o comando do próprio Vinícius. 

“Fui novamente convidado e contratado para chefiar a equipe técnica. Ela era inicialmente formada por Nayron Barbosa, Marcello Barros, Marcos Mesquita e Márcio Callado. Mais tarde, já perto da conclusão das obras, essa equipe foi acrescida por Roberto Paiva Torres e Marcos Cotrim”, escreveu Vinícius Maia Nobre.

No livro, o engenheiro faz questão de lembrar também dos nomes dos profissionais de nível médio que fizeram a diferença na obra (entre eles, Gerôncio Ramos, auxiliar de engenheiro, Paulo Júlio Lopes, Topógrafo, Valdo Agnelo Lima, laboratorista, João Martins, eletricista), além de carpinteiros, armadores, pedreiros, chefes de almoxarifado, a secretária responsável pelo escritório central da FAPE, Yanê Farias, além das centenas de trabalhadores braçais que participaram da obra.

Quanto ao nome do Estádio, “Rei Pelé”, Vinicius escreveu que discorda da homenagem ao tricampeão.

“Muito mais justo seria o nome daquele que deu tudo de si para realizar o sonho de muitos alagoanos, expondo-se às maledicências dos seus opositores e avalizando operações financeiras em horas incertas para a sua cobertura: Napoleão Barbosa (foto à esquerda)”, defende o engenheiro. 

Muito além da polêmica “Rei Pelé” ou “Rainha Marta” (grandes estrelas que mercem, sim, todas as homenagens), os alagoanos façam justiça à memória daqueles que idealizaram e ergueram o Estádio que completou 50 anos neste domingo.

Para saber mais: Livro Paixão Incalculável – Memórias de um Engenheiro, Vinícius Maia Nobre, Edufal