“Siri de Coral”: o que você precisa saber sobre uma das mais apreciadas iguarias alagoanas

Agendaa 18 de maio de 2018

“A valorização do siri de coral é uma das marcas exclusivas da culinária alagoana sem paralelo em outros Estados do Nordeste”, diz a blogueira de gastronomia Nide Lins. O premiado chef do restaurante Sur, Sérgio Jucá, concorda. “É um dos ingredientes de sabor mais refinados das nossas lagoas”.

Mas, afinal, o que é o “coral”, a pequena massa da cor alaranjada encontrada no corpo dos siris pescados em nossas lagoas, cujo sabor acentuado e delicado a transformou em iguaria apreciada com ajuda de uma pequena colher?

E , ainda: o siri de coral seria, de fato, exclusivo de Alagoas?

Com ajuda de especialistas, AGENDA A tenta responder abaixo algumas dessas questões.

Antes das respostas, é importante saber que todo o siri é, na verdade, um caranguejo. No caso, um caranguejo da família Portunidae, uma das variações da espécie que pertencem a um grupo maior de crustáceos, os decápodes, que possuem dez patas – assim como as lagostas e camarões. Como lembra o biólogo da USP Siqueira Bueno, é  fácil  diferenciar a família do siri da de outros caranguejos por dois traços fundamentais: o primeiro é que o siri vive em águas marinhas, ou mangues, canais e lagoas com acesso ao mar, como as do nosso litoral; o segundo é que suas duas patas traseiras não são pontiagudas, mas achatadas e amplas, o que faz com que o siri consiga nadar (quem tentou pegar um siri dentro d´água, descobre rapidamente o quão veloz ele se desloca).

E o coral?

“O que chamamos de coral é, na verdade, as ovas brotando do ovário do siri fêmea em sua fase inicial, antes de migrarem para a área externa do abdômen do animal”, explica o biólogo Juliano Fritscher, integrante do programa de gerenciamento costeiro do IMA em parceria com a Fapeal. “Como nossas lagoas são, na verdade, lagunas em contato com o oceano, elas criam ambientes ideiais procurados pelas fêmeas para a reprodução, o que explicaria a grande quantidade de fêmeas pescadas e a consequente cultura de valorização do consumo de suas ovas”.

A notícia ruim é que, ainda que o siri não esteja ameaçado de extinção (como o seu primo, o caranguejo guaiamum, cuja venda em bares e restaurantes foi proibida pelo Ministério do Meio Ambiente), sua pesca indiscriminada pode, a longo prazo, diminuir a população da espécie em nossas lagoas. “Apesar de não ser ilegal, é uma prática condenável do ponto de vista biológico pelo foco na captura da fêmea no período de reprodução”, diz o biólogo.

Ou seja: para que a iguaria possa continuar a ser apreciada no futuro, é aconselhável não abusar do seu consumo hoje — e tentar valorizar, também, os machos da espécie, que costumam ser desprezados por não serem dotados do disputado “coral”.

por Rodrigo Cavalcante