Fotógrafo ganha prêmio do “El País” com autorretratos sobre a pandemia na periferia de Maceió

Agendaa 24 de agosto de 2020

Aos 12 anos, ainda no início dos anos 1990, Roger Silva descobriu a paixão pela fotografia quando saiu de Barreiras, em Pernambuco, para entrar pela primeira vez numa loja de “revelação de filmes” no Centro de Maceió onde comprou a primeira máquina fotográfica (descartável e ainda de filme) ao lado do pai, que trabalhava como padeiro em Alagoas. 

Aos 40, o pernambucano radicado em Alagoas desde os 15 que mora no Eustáquio Gomes e ganha a vida ensinando História (ele se formou pela Ufal ano passado) e fazendo trabalhos de adesivagem, foi destaque neste domingo (23) na edição brasileira do jornal espanhol El País, um dos mais respeitados do mundo, como vencedor da microbolsa de fotojornalismo “A Covid-19 nas Periferias do Brasil”, oferecida pelo jornal em parceria com a editora de livros de fotografia Artisan Raw Books.

“Mais do que o valor do prêmio (uma microbolsa de R$ 1000), fiquei extremamente grato e feliz com o reconhecimento dos jurados e a chance de ter minhas fotos publicadas em uma editora renomada”, diz Roger, que terá suas imagens publicadas em fotolivro da Artisan Raw Books. 

Apesar de ter se apaixonado pela fotografia desde a adolescência, Roger conta que só passou a entendê-la como uma linguagem poderosa após entrar no Curso de História da Ufal em 2014, quando voltou a fotografar para logo no ano seguinte ganhar o terceiro lugar no prêmio de fotografia “Maceió 200 anos de beleza”, promovido pelo Memorial Pontes de Miranda, do Tribunal Regional do Trabalho. Após ter uma de suas fotos escolhidas como base para a capa da revista Graciliano, da Imprensa Oficial, Roger foi investindo mais na fotografia e ingressou na Agência Fragma, criada pelo alagoano Jorge Vieira, que vem movimentando a cena da fotografia em Alagoas com o Fotosururu – Encontro de Fotografia Criativa em Maceió.

Após o início da pandemia, Roger desenvolveu projetos fotográficos para documentar o período que resultou em três séries: “Casulo”, “Metamorfose” e “Banzo”, com a qual ele se inscreveu venceu a premiação.

Segundo o fotógrafo e historiador, a série de autorretratos narra as angústias da população negra periférica em tempos de isolamento social e foi inspirada na história de uma empregada doméstica que morreu de Covid-19 no Rio. “Como morador de periferia e filho de empregada doméstica que precisava trabalhar nesse período, tentei retratar esse sentimento de angústia de quem não pode se isolar durante esse período”, diz Roger, que utilizou máscaras produzidas por um amigo artista plástico e realizou as fotos em sua casa, sozinho, durante algumas madrugadas. 

Saiba mais sobre o fotógrafo em reportagem do El País aqui e veja mais imagens no Instagram dele aqui.