Nesta quarta: aos 60 anos, um dos maiores poetas de Alagoas lança livro com 60 poemas

Agendaa 17 de julho de 2019

por Rodrigo Cavalcante

É fácil celebrar os poetas mortos.

Difícil é ter coragem de reconhecê-los vivos sem provocar veleidades em terra de parnasianos tardios em busca do ornamento de academias.

Aos 60 anos, Sidney Wanderley, que lança nesta quarta pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos seu livro “60” (na galeria Galpão 422, em Jaraguá, às 19 horas), com 60 poemas, resistiu como uma espécie rara no Estado, quase um Mutum da poesia alagoana.

Como se sabe, o Mutum-de-Alagoas (Mitu mitu), que por pouco não foi extinto, não se destaca entre as aves pelas cores chamativas, pela beleza do canto, design aerodinâmico das asas, elegância no andar e muito menos pela altitude de voo.

Na verdade, o Mutum prefere viver no chão da mata, um tanto desengonçado, ainda que mais exposto aos predadores, mas sem perder o passo ou a graça.

Em mais de 43 anos de escrita (desde que, em meio ao cheiro do formol do Curso de Anatomia em 1976, assumiu o fardo da vocação e largou o Curso de Medicina), Sidney Wanderley resiste firme e com graça no chão de Viçosa, à margem do semi-morto Rio Paraíba (“Inútil para o Canto dos Poetas”, como ele escreve no poema “Paraíba, O Rio”). E apesar de, ainda moço, ter tido o privilégio de trocar correspondência com Drummond e, mais tarde, contato e estímulo de nomes como o escritor Raduan Nassar, o poeta Afonso Romano de Sant´Anna, o bibliófilo  José Mindlin e o colunista da Folha Marcelo Coelho (na orelha do livro, há comentários deles sobre o poeta), Sidney continua fincado em Alagoas.

Não a Alagoas de paisagens de agência, mas da Alagoas como ela é, com seus rios e lagoas onde o sururu resiste ao “plástico indevorável das garrafas” e ao “mijo tibornoso das usinas”.

Mas essa Alagoas faz parte de apenas um capítulo da coletânea (com prefácio do poeta Fernando Fiuza), cujos outros levam o nome de temas de interesse do viçosense como “Ciências Naturais”, “Os Dias Idos”, “Gramática do Afeto”, “Uns outros”, “Certas Coisas” e “Tristes Tópicos”, onde fala sobre perdas e sobre a morte.

Sem nunca perder, é claro, a graça e irreverência.

A mesma irreverência com que respondeu à jornalista Patrycia Monteiro, da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, ao ser questionado sobre os próximos projetos literários.

“Tomar umas cervejas Petra com amendoins crocantes da Pettiz, dar um beijo na minha gata Dóris e morrer”.

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