Cinema alagoano desembarca em Festival de Brasília de olho na indústria bilionária do audiovisual

Agendaa 18 de setembro de 2018

por Rodrigo Cavalcante

Em vez de tentar atrair apenas grandes fábricas, estaleiros e polos moveleiros, por que Alagoas deveria ficar de fora de uma indústria cultural que movimenta no país dezenas de bilhões de reais por ano (mais de R$ 24, 5 bilhões em 2014), representa quase 0,5% do PIB brasileiro (superando segmentos tradicionais como o da indústria farmacêutica) e tem potencial para projetar imagens do Estado não apenas do Brasil, como no mundo inteiro?

De olho no crescimento exponencial da indústria de audiovisual do Brasil (que aumenta 9% ao ano estimulado por novos meios como a Netflix), um grupo de cineastas e representantes do audiovisual alagoano, com apoio da Prefeitura de Maceió, Governo do Estado e do Sebrae Alagoas, desembarcam essa semana no 51º Festival de Cinema de Brasília não apenas para a exibição de quatro curtas do Estado premiados, como para participar do encontro Ambiente de Mercado com representantes de empresas como a Netflix, Fox, Viacom, Canal Brasil, Canal Curta, Vitrine Filmes, entre outras.

“Essa presença é essencial não apenas para colocarmos a produção audiovisual alagoana na vitrine do mercado brasileiro, como para estimular novos investimentos na área”, diz Rafhael Barbosa, representante do Fórum Setorial do Audiovisual Alagoano e um dos fundadores da La Ursa, primeira produtora e distribuidora de filmes com sede no Estado fundada em 2016.

Como Rafhael explica, a própria fundação da La Ursa só foi possível pelo surgimento de uma nova geração de cineastas alagoanos que conseguiram realizar filmes acessando novas fontes de financiamento regional incentivados por editais da Agência Nacional de Cinema, Ancine.

Na prática, a Ancine estimula prefeituras e governos do Estado a lançarem editais na área oferecendo contrapartidas que multiplicam o valor do investimento local. Em Alagoas, a Prefeitura de Maceió foi pioneira na adoção do edital com o Prêmio Guilherme Rogato, em 2015, liberando um valor de R$ 300 mil que se transformou em R$ 900 mil com a contrapartida da Ancine – viabilizando a produção do primeiro longa metragem local, “Cavalo”, em fase de montagem, que será oferecido a distribuidoras em rodadas de negócio no Festival de Brasília. Em 2016, foi a vez da secretaria estadual de Cultura lançar um edital no valor de R$ 1 milhão, que se transformou em R$ 3 milhões – fomentando a produção de 21 filmes (dois longas-metragens, 17 curtas e dois médias metragens).

Como a Ancine este ano deve elevar a contrapartida dos editais em até cinco vezes o valor investido localmente, a expectativa dos produtores é de que a Prefeitura e o Governo do Estado aproveitem os recursos da agência para aumentar o aporte local dos editais com o objetivo de estimular a criação da base de uma indústria de audiovisual local, assim como as já existentes em Estados do Nordeste como Ceará e Pernambuco (somente em PE, os investimentos em editais na área chegaram este ano a quase a R$ 50 milhões).

“Identificamos, sim, a indústria do audiovisual como um dos setores da  economia criativa com maior potencial de crescimento em Alagoas”, diz Débora Lima, analista de Comércio e Serviços do Sebrae Alagoas. “Até porque trata-se de uma indústria criativa com alto impacto em várias outras cadeias econômicas, do aluguel de equipamentos, figurinos além do reforço ao turismo ao projetar a  cultura do Estado”.

Para divulgar no mercado a nova safra da produção do cinema alagoano entre distribuidores e exibidores nacionais, será lançado na próxima sexta (21), no Festival de Brasília, o catálogo “Cinema Sururu – O novo audiovisual produzido em Alagoas”, publicado pela imprensa Oficial Graciliano Ramos. No sábado (22), das 16h às 18h, o Festival de Brasília exibirá em sua Atividade Paralela, no Espaço Cultural Renato Russo, a “Mostra Sururu” com curtas alagoanos premiados como “As Melhores Noites de Veroni”, de Ulisses Arthur, que foi um dos selecionados edição passada da mostra em Brasília (veja vídeo de agradecimento do diretor em Brasília abaixo).     

Resta esperar que essa ação seja a primeira de uma série que faça com que outras instituições e gestores alagoanos possam atualizar, para o século 21, as configurações que têm de indústria e desenvolvimento econômico.