“Estados do NE estudam criar fundo para Ciência” diz presidente da Fapeal que assume conselho nacional

Agendaa 23 de abril de 2020

Nesta semana, o economista Fábio Guedes, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), assumiu a presidência do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) num dos momentos mais críticos para a ciência brasileira.

Em meio à pandemia e à ameaça de cortes de programas federais, o professor de economia paraibano radicado em Alagoas há mais de 10 anos (após ser aprovado em concurso para professor de Economia da Ufal) terá como uma das principais metas garantir ao menos a manutenção dos programas já existentes. “Sem a manutenção dos programas federais, muitas fundações não terão como manter programas essenciais”, diz Guedes, que falou a AGENDA A sobre a importância dos investimentos em ciência durante e após a pandemia – e da ideia da criação de um fundo dos Estados do Nordeste voltado para ciência.

AGENDA A: Você assume o Confap num momento em que parte da sociedade, em meio à pandemia, volta a perceber a importância de institutos de pesquisas como a Fiocruz. Acredita que o Brasil investirá mais em ciência e tecnologia após a pandemia?

Sinceramente, gostaria de acreditar, mas ainda não vejo sinais concretos de que isso ocorrerá. Em países como Alemanha, França, Espanha e até os Estados Unidos, os pesquisadores e cientistas têm tido um poder maior de influência sobre as políticas públicas de combate ao coronavírus. Apesar de muitas autoridades em Brasília invocarem a “ciência”, na prática, não temos visto, por exemplo, o Governo Federal envolver líderes de organizações científicas como a Academia Brasileira de Ciências ou a SBPC, por exemplo, para ajudar na definição de linhas de trabalho e protocolos. Nesse sentido, podemos dizer até que a região Nordeste deu exemplo sendo pioneira na formação de um comitê de cientistas para embasar políticas públicas dos governadores dos Estados da região. Mas, nacionalmente, acredito que ao menos o nosso Sistema Único de Saúde, o SUS, será valorizado após essa crise, o que já representaria uma grande vitória.      

Qual sua principal meta à frente do Confap?

Nossa pauta principal é voltarmos a participar mais diretamente das ações e programas de agencias federais como o CNPq, Capes e Finep. Nesse sentido, uma boa notícia é que assumo o Confap exatamente porque o pesquisador Evaldo Vilela, que era presidente da entidade, foi chamado para assumir a presidência do Conselho Nacional do CNPq. E temos certeza de que o Evaldo, com sua capacidade de liderança, fará tudo ao seu alcance para garantir a manutenção desses programas. Mas, sem dúvida, o momento é difícil. Se, antes da pandemia, a ciência e a tecnologia já eram alvos de uma série de cortes, a crise econômica pós-pandemia deve ameaçar ainda mais os investimentos na área. E nosso papel é garantir ao menos a manutenção dos programas. Em Alagoas, o governo do Estado tem se sensibilizado nesse sentido. E nossa luta agora é conseguir que o Governo Federal também mantenha os aportes já programados. Sem essa base de recursos, muitas fundações estaduais não terão como manter programas essenciais.

Em meio à pandemia, Alagoas, em contraste com outros Estados, não conta com institutos e laboratórios capazes de dar suporte, por exemplo, à realização de testes de uma forma mais rápida. Não é hora de o Estado investir mais na área?

Em Alagoas, o Laboratório Central, o Lacen, é o único autorizado para a realização de testes. Apesar de temos alguns bons laboratórios, precisamos investir para que eles tenham a certificação de biossegurança necessária para poderem dar suporte maior no combate ao vírus. Uma coisa é realizar o teste. Outra é produzir o teste, o que implica em certificados que os institutos do Estado ainda não têm.

O que será possível fazer até lá?

No curto prazo, já estamos trabalhando em um programa em conjunto com o Sebrae para lançar uma chamada com duas linhas de trabalho. Uma voltada para fomentar pesquisas de grupos de universidades e outra para a encomenda de soluções tecnológicas. É o que podemos fazer em um ano que será duríssimo para investimentos em todas as fundações. Diante desse cenário, em conjunto com os Estados do Nordeste, por exemplo, estamos estudando alternativas para captarmos recursos para o setor.

Quais alternativas?

Vou até adiantar uma informação aqui. Em conjunto com outros Estados do Nordeste, estamos estudando, após a formação do comitê, a criação de um fundo que facilite a captação de recursos para a ciência e a tecnologia da região. É um modelo que facilitaria, por exemplo, a captação tanto de doações de pessoas físicas quanto do aporte de agências multilaterais de governos estrangeiros. E, dentro desse plano, nossa ideia é que a gestão desses recursos possa ser coordenada pelas fundações estaduais de apoio à pesquisa. Mas é uma ideia que ainda está sendo desenvolvida.

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