Por que Maragogi virou modelo para grupo de pesquisa nacional simular evolução da pandemia

Agendaa 8 de março de 2021

Como a pandemia se espalha entre os bairros de uma cidade? Como se dá a rede social de contágio? Quais os locais com maior probabilidade de disseminação da pandemia?

Para responder perguntas como essas, um grupo de pesquisadores da USP, Unicamp, FGV, UFRJ, Fiocruz e do Laboratório de Estatística e Ciência de Dados (LED), da Ufal, está usando dados da cidade de Maragogi, Litoral Norte de Alagoas, para criar modelos computacionais mais realistas em busca de padrões de disseminação do vírus.

Mas, por que Maragogi?

“Como os pesquisadores da UFAL tinham uma parceria desde o ano passado com a Prefeitura de Maragogi para monitorar a pandemia, podemos contar hoje com dados consistentes da evolução da Covid-19 na cidade que são essenciais para tornar nossas simulações bem mais próximas da realidade”, diz Tiago Pereira, professor titular do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP e coordenador do projeto que conta com apoio do Instituto Serrapilheira, maior instituição privada de fomento à Ciência no país.   

Com base nesses dados, os pesquisadores descobriram, por exemplo, que a Feira Livre de Maragogi não era um centro de disseminação importante da cidade como esperado. Em compensação, os modelos sugeriram que, além de postos de saúde e hospitais, os supermercados (que, diferentemente da Feira Livre, não são a céu aberto), eram o segundo tipo de estabelecimento com maior probabilidade de disseminação do vírus.

“Para nossa surpresa, o monitoramento da Feira Livre da cidade, que contou com uso até de drones para identificar pontos de maior aglomeração, indicou que ela não havia tido um papel relevante na disseminação da doença como esperávamos”, diz Tiago Pereira. “E isso mostra como a tomada de decisões sobre o fechamento ou reabertura de locais sem apoio de dados pode resultar em medidas ineficazes”.

De acordo com os modelos aplicados pelos pesquisadores, uma das estratégias mais eficazes para conter a escalada de casos e de ocupação de leitos da UTI seria vacinar, além de profissionais da saúde e idosos, grupos de trabalhadores que têm contato diário com um grande número de pessoas, como caixas de supermercado e outras categorias. “Como essas pessoas são potenciais vetores importantes da doença, os modelos indicam que a vacinação desses grupos específicos seriam decisivos para diminuir o número de casos e ocupação de leitos”, diz o coordenador da pesquisa. “E isso poderia ajudar na definição de melhores estratégias futuras de vacinação”.

Para o coordenador local do projeto, o professor de Matemática Krerley Oliveira, o monitoramento da cidade de Maragogi, além de essencial para compreender padrões da pandemia, deixará também um legado na formação de pesquisadores locais especialistas no monitoramento de pandemias. “Como contamos não apenas com a participação de pesquisadores do Instituto de Matemática da Ufal, mas com um grupo que inclui pesquisadores e alunos de Farmacologia, Medicina, Física, Engenharia da Computação, entre outros, o conhecimento acumulado desde o ano passado poderá deixar um legado importante não apenas no combate à disseminação do coronavírus, como no controle de outras epidemias no Estado”, diz o matemático.

Isso, claro, se as lideranças políticas decidirem, de fato, ouvir o que eles têm a dizer.