“Potencial do turismo em Alagoas está apenas iniciando”, diz espanhol à frente da Aena Brasil

Agendaa 5 de outubro de 2020

Quando o executivo Santiago Yus Sáenz de Cenzano nasceu em Zaragoza, em 1975, a Espanha ainda era um país fechado (e até atrasado, quando comparado aos vizinhos), que acompanhava com apreensão a transição do regime do ditador Francisco Franco, que faleceria em novembro daquele ano.

Quarenta e cinco anos depois, após a Espanha se abrir para o mundo e se tornar uma potência global do turismo (recebeu 83,7 milhões de visitantes em 2019, à frente dos EUA) o caminho de Santiago à frente da Aena Brasil, braço brasileiro da aeroportuária Aena, é ajudar agora a turbinar o fluxo de passageiros dos seis aeroportos do Nordeste que a empresa espanhola arrematou por R$ 1,9 bilhão em março passado, incluindo o Zumbi dos Palmares.

“O potencial turístico internacional de todo o Nordeste é imenso e o de Alagoas está apenas começando”, diz Santiago, que veio a Maceió sexta passada em meio às comemorações do desembarque do primeiro voo regular Lisboa-Maceió pela companhia aérea portuguesa TAP. 

AGENDA A: Vocês arremataram seis aeroportos do Bloco Nordeste, inclusive o Zumbi dos Palmares, um ano antes da pandemia paralisar o turismo nacional e mundial. Apesar da pandemia, continuam otimistas quanto ao potencial do turismo na região?

Sim, continuamos otimistas. Sabemos que o Nordeste e Alagoas, especificamente, têm um potencial imenso no turismo que está apenas no início. Como profissionais desse setor, realizamos pesquisas sobre o perfil dos passageiros por gênero, idade, motivo de viagem. Claro que a pandemia afeta os investimentos previstos no curto prazo, mas continuamos otimistas quanto ao potencial dos aeroportos da região, assim como do Aeroporto Zumbi dos Palmares. 

Na Espanha, a Aena administra aeroportos de diversos perfis, alguns com vocação para turismo de negócios, outros que são potências no turismo de lazer, como o de Málaga e de Tenerife. Essa é vocação do Aeroporto Zumbi dos Palmares?

Sim, é verdade que Alagoas, já conhecida como o Caribe do Brasil, faz com que o Aeroporto Zumbi dos Palmares seja, de fato, um grande destino de turismo de lazer, assim como alguns desses aeroportos na Espanha que você citou que atraem milhões de turistas. Por isso mesmo, acreditamos tanto no potencial do aeroporto de Alagoas. Temos certeza que, se o dever de casa continuar sendo feito por todos, esse novo voo da TAP será apenas o primeiro de uma série.

Pela experiência acumulada em destinos de lazer da Espanha, como você enxerga os pontos mais fortes e mais vulneráveis do turismo em Alagoas?

O que torna um destino de lazer atraente é um conjunto de fatores. O mais importante deles é, sem dúvida, as belezas naturais e o clima, já que esse é o primeiro atrativo para esse tipo de destino. E isso Alagoas tem de sobra. Além disso, há outros fatores essenciais, como a qualidade da prestação de serviços, a segurança do local, preços atrativos. Enfim, há um conjunto de fatores, não necessariamente nessa ordem, que tornam o destino atraente. 

Entre esses pontos, quais os que dificultam mais a atração de turistas para o Estado?

Sinceramente, acredito que o principal entrave para a expansão do turismo não apenas em Alagoas, mas em outros Estados do país, não sejam problemas dos destinos. As barreiras maiores são regulatórias, são os entraves para a liberalização do mercado e a presença de mais companhias aéreas internacionais e concorrência no espaço aéreo brasileiro. Quando a União Européia, por exemplo, fez acordos para permitir a liberalização do mercado nos anos 1990, houve uma multiplicação nas rotas e do fluxo de passageiros, fazendo com que em alguns aeroportos da Espanha esse fluxo aumentasse quatro vezes com a chegada de empresas low cost. Outro entrave para a vinda dessas empresas está no peso do preço do combustível. É difícil entender como o Brasil, que é um grande produtor de combustível, esse item signifique mais de 33% dos custos do setor enquanto no resto do mundo fica em torno de 20%. Nesse contexto, é difícil, de fato, a viabilidade de companhias dlaow cost no país. Já os outros atrativos são fruto da união de governo, sociedade civil, rede hoteleira, e acredito que isso já está acontecendo em Alagoas. E o desembarque desse voo da TAP é resultado desse esforço.

Apesar desse otimismo, é claro que a pandemia afetou as contas e o planejamento de investimento da Aena no Brasil. Vocês irão reivindicar com a ANAC possíveis revisões de cláusulas do contrato em função da pandemia?     

Claro que a pandemia foi um fator inesperado, de força maior, que exige uma revisão de cláusulas específicas que prevêem esse tipo de situação. Mas, neste momento, estamos ainda nos debruçando sobre os números e levantando dados para avaliarmos o impacto e os pontos chaves que poderão ser renegociados. Mas, até em respeito ao contrato, não podemos adiantar nenhuma desses pontos antes de dialogar com o poder concedente.