O valor do São João: queda de faturamento em cidades do NE revela potencial pouco explorado em Alagoas
Publicado em 24 de Jun de 2021
São João em Campina Grande: secretaria de Desenvolvimento Econômico do município estima que festa gerava incremente de R$ 300 milhões antes da pandemia
por Rodrigo Cavalcante
A pandemia mostrou que o São João não é apenas uma festa.
É motor de desenvolvimento econômico e social.
Ano passado, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Campina Grande, por exemplo, estimou que o São João da cidade era responsável por um incremento de R$ 300 milhões na economia local, com geração de mais de 3 mil empregos diretos e indiretos.
Em Pernambuco, o governo calculou que o São João gerava cerca de R$ 250 milhões -- desse total, R$ 200 milhões em Caruaru (só em impostos, a Prefeitura de Caruaru teria deixado de arrecadar cerca de R$ 2 milhões apenas em junho).
O Governo da Bahia estimou que as cidades do interior movimentavam em média cerca de R$ 550 milhões nas festas juninas. Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, a festa, segundo cálculos da Prefeitura, injetava R$ 94 milhões na cidade. E um estudo da Universidade Potiguar apontou que, para cada R$ 1 que a cidade de Mossoró investiu no São João no ano passado, outros R$ 14 foram injetados na economia do município do semiárido do Rio Grande do Norte.
E ainda que essas estimativas tenham uma margem de erro generosa, o volume suficiente para que outros Estados do Nordeste tenham investido recentemente mais na festa, como Sergipe (que criou o “Forro Cajú’), Piauí (com o “Cidade Junina, Teresina”) e Maranhão (com sua festa tradicional do Bumba-Meu-Boi em São Luís, que vai do Dia de Santo Antônio, 13, até São Marçal, 30).
Em Alagoas, apesar de algumas iniciativas pontuais antes da pandemia, o São João (assim como o Carnaval), ainda representa uma parcela ínfima do potencial econômico e turístico da festa para o Estado.
“Não é por falta de vocação cultural que o São João em Alagoas ainda não tem a mesma dimensão das festas de outros Estados do Nordeste”, diz Débora Lima, especialista em Economia Criativa e analista da Unidade de Competitividade e Desenvolvimento do Sebrae Alagoas. “Alagoas tem vários grupos e expressões culturais importantes, mas, com algumas exceções, ainda falta sensibilidade para ver a cultura como um grande vetor da economia”.
De acordo com a analista, isso não significa, contudo, que os grandes eventos devam ser sustentados pelo setor público. “Assim como ocorre em Caruaru, Campina Grande e outras cidades, os gestores investem em editais e na estrutura do evento que, para ser sustentável, precisa ser mantido com a captação de recursos privados”, diz Débora. “Mas o papel dos gestores na indução e formatação é essencial para a promoção e a criação de um ambiente em torno do evento que movimenta toda uma cadeia produtiva”.
E é exatamente a criação desse ambiente que impulsiona a economia não apenas durante o evento, como o consumo no mês que antecede as festas juninas. “Aqui na Paraíba, o movimento do comércio e serviços nessa época é tão intenso que a data é uma espécie de segundo Natal”, diz André Vajas, superintendente da Rede Tambaú de Comunicação, afiliada da SBT na Paraíba, que conhece bem o mercado paraibano e alagoano - onde foi diretor do Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM). “Claro que o São João também tem impacto positivo no mercado alagoano, mas a quantidade de festas e eventos não apenas em Campina Grande, mas em outras cidades do interior, muda a atmosfera do Estado e aquece fortemente o consumo e o mercado publicitário na Paraíba já no mês de maio”, diz Vajas.
Ainda de acordo com Vajas, um dos traços mais importantes da festa na Paraíba é a interiorização dos eventos. “É o momento em que o morador de João Pessoa se desloca para Campina Grande e outras cidades para participar de festas e se reconectar com a família e suas raízes no interior”, diz Vajas. “E apesar de algumas cidades alagoanas como São Miguel dos Campos, no passado, terem tentado sediar o São João no Estado, esse movimento de interiorização ainda é muito tímido em Alagoas quando comparado com a situação aqui”.
Para o publicitário alagoano Hermann Fernandes, da Chama Publicidade, as empresas locais também precisam estar mais atentas para a força do calendário junino como um período de ações especiais de comunicação. “É importante que as marcas locais atentem para o poder de engajamento desse período e tragam para os seus planejamentos ações temáticas que fortaleçam a sua imagem, estreitem o relacionamento com os clientes e assumam o protagonismo dessas ações”, diz Hermann. “A iniciativa privada também precisa comprar a ideia das datas promocionais e se apropriar delas para gerar negócios”.
Ou seja: ainda que a indução do poder público para reavivar a força do São João no Estado seja essencial, não se faz uma grande festa de São João sem mobilização das empresas e de toda sociedade.
Para a analista Débora Lima, do Sebrae Alagoas, o impacto negativo causado pela paralisação desses grandes eventos só tornou ainda mais visível a força da chamada economia da cultura. “Em um momento crítico como esse, talvez as lideranças políticas e empresariais do Estado se sensibilizem mais para a importância econômica e cultural das festas juninas e outras manifestações populares em Alagoas”, diz Débora.
São João em Caruarua: estimativa de injeção de R$ 200 milhões na economia antes da pandemia
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