Como a ciência explica a cor do mar de Alagoas, lembrada por Caetano em viagem à Itália?

Agendaa 20 de julho de 2018

Mergulhar no verde, azul turquesa ou, como cantou o compositor Carlos Moura em “Minha Sereia”, no azul piscina…

O fato é que, como lembrou até o baiano Caetano Veloso esta semana, ao comparar a cor do mar de um trecho da costa italiana ao de Maceió, a paleta de cores das praias do Estado sempre foi um diferencial quando comparado ao azul dominante (e às vezes monótono) de outros litorais – para não citar os tons de cinza e até marrom de outras costas.

Mas, afinal, o que determina a tonalidade da cor do mar da costa alagoana?

De acordo com os pesquisadores, a cor do mar é determinada pelo conjunto de sedimentos, detritos e organismos vivos dissolvidos na água. Normalmente, a cor predominante é azul devido ao fato de essa ser a tonalidade que as partículas de areia e os microorganismos mais comuns na sua superfície refletem quando atingidos pela luz solar.

“A gradação de tonalidades do verde ao azul que diferencia o litoral de nossa capital do de Estados vizinhos é resultado da soma de alguns desses fatores”, diz o oceanógrafo Gabriel Le Campion, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Ufal. 

De acordo com o oceanógrafo, o primeiro fator seria a menor presença de sedimentos em suspensão no litoral de Maceió oriundos da foz de rios — como ocorre no Recife, com o Capibaribe e o Beberibe, ou o rio Sergipe, em Aracaju. Diferentemente destes, rios importantes do Estado como o Mundaú e o Paraíba, por exemplo, desembocam, respectivamente, na Lagoa Mundaú e na Lagoa Mangaba, que absorveriam a maior parte desses sedimentos antes de entrarem em contato com o oceano. “Os manguezais e matas ciliares ao longo de nosso litoral servem também como um anteparo para reter esses sedimentos”, diz Le Campion.   

Outro fator que interfere na tonalidade e na transparência da água, segundo o oceanógrafo, são os depósitos de calcário oriundos de algas que vivem próximas dos arrecifes da nossa costa. “Aqueles flocos calcários, muito comuns nas piscinas naturais, atuam como partículas de um filtro natural para sedimentos que dão mais transparência a essa faixa da costa, criando uma gradação de cores que vai do verde claro, próximo aos corais, ao azul mais escuro, na faixa mais distante da costa”, explica Le Campion.

Ou seja: enquanto nossas lagoas, manguezais e arrecifes forem preservados, menos riscos correremos de alterar as cores do mar lembradas até em viagem no Mediterrâneo por Caetano Veloso.

por Rodrigo Cavalcante